Sentinela atenta e vigilante, fica ali ao Sul da Vila. Por ele se orientaram os primeiros que aqui chegaram, para desembarcarem no Penedo Negro, que lhe fica encostado, em “A bela plataforma basáltica da fajã lávica das Lajes do Pico” como diz o Professor Doutor Victor Forjaz, in “Dos Vulcões dos Açores”.
E mais do que vigilante, é a guarda atenta a proteger a Vila avoenga dos temporais do Sul.
A sua pequena enseada acolheu Fernão Alvares, quando este, com os enviados do Infante, aportaram vindos do Sul, naturalmente da ilha Terceira.
Nos dias calmos é um encanto contemplá-lo, frente à montanha, que é, por si só, uma das sete maravilhas mundiais, classificada ou não.
O Castelete a Sul, a Montanha a Norte, parece guardarem, cautelosamente, a bela plataforma onde foi iniciado o povoamento e onde os primeiros que aqui se fixaram implantaram a Vila das Lajes. E não se julgue que o fizeram sem qualquer orientação técnica. O traçado urbanístico da vila releva que algum técnico o orientou de maneira a salvaguardar as habitações das invasões do mar, pois a chamada “muralha de defesa” só viria a aparecer, depois de muito reclamar, já nos finais do século dezanove. Ainda em 1914 ainda se trabalhava na construção da primitiva muralha, junto da Barra. É o que nos informa o jornal “As Lages” que então se publicava nesta vila. Mas não vou adiantar mais.
Um curto istmo liga o Castelete à terra. Estreito e acidentado, permite a travessia com grande dificuldade. Mesmo assim, era por ele que algum mais destemido se atrevia a subir o morro, pois nele se desenvolvem alguns arbustos, sobretudo o “mato” ou urze e que era cortada, no final do verão para, depois de seca, servir para chamuscar os porcos na época do Natal. Outros trepavam-no para irem pescar na costa sul, onde se apanhavam lapas, vejas e outras espécies piscícolas.
Actualmente isso não acontece pois não sei de quem se atreva a passar no “delgado” para atingir o Castelete. O mato e outros arbustos vão crescendo e não há quem se atreva a subir o pequeno monte, pois uma queda pode ser fatídica. E isso já aconteceu, infelizmente. Foi o caso do “Beiçoca”, seu frequentador habitual, que um dia o fez com tamanha infelicidade. Escorregou, desequilibrou-se e por lá perdeu a vida.
Mas o Castelete, para além dessa beleza paisagística, tem o mérito de evitar que as vagas alterosas das tempestades de Sul invadam a vila, debatendo-se furiosamente contra ele, que tudo suporta com alguma resignação.
Para os habitantes das Lajes, principalmente para os que habitam para os lados da Silveira, o Castelete é um “pano de fundo” maravilhoso, sobretudo nas manhãs soalheiras do Verão, quando o astro rei, avançando sobre a encosta leste, vai espalhando seus raios multicolores.
Mas, se para os da Silveira é o Castelete o seu enlevo, para os habitantes da Vila fica-lhes a Montanha altaneira, plena de encantos, principalmente quando o Pico do Pico, nos seus 2.351 metros de altitude, principia a ser colorido com o Sol nascente.
E foi ali, na enseada do Castelete, que saltou o Fernão Álvares, com o seu cão, num pequeno rochedo, o penedo negro, que ali está arrostando contra as tempestades de Oeste.
E porque os homens mais não querem, resta aos lajenses a contemplação maravilhosa do Castelete a sul e da Montanha a norte. Ao menos essas duas maravilhas naturais a encrostar a avoenga vila.
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